Diabética aos 19 anos, Kettlin encarou até um AVC
Meu nome é Kettlin Carolina de Santana Machado, tenho 27 anos, moro em Joinville, sou filha adotiva e diabética Tipo 1 (DM1) há 7 anos. Minha história com a Diabetes Melitus (DM) começou em 2013, mesmo ano que conheci o meu esposo. Eu estava passando por um momento muito estressante, tinha recém-saído do emprego, recém-acabado a faculdade e terminado um relacionamento abusivo.

Em fevereiro daquele ano, comecei a ter muita sede e muita fome (principalmente de besteira e doce), mas não me preocupei, pois sempre fui muito magra e nunca cuidei da alimentação. Como era verão, pensei que a sede fosse devido ao calor excessivo que fazia na época. No início de março, as coisas pioraram e, em um dia a tarde, desmaiei em casa.
Meu pai me levou inconsciente para o hospital e quando entraram comigo na emergência, minha glicose estava acima de 800. Tenho alguns flashes de memória das pessoas me perguntando o que eu sentia, mais não tinha reação alguma.

Quando recobrei a consciência, já estava internada, meus pais apavorados, meu esposo (então namorado) em choque. Até que recebi a notícia que estava com diabetes. Para mim foi um choque, pois, até então, achava que diabetes era coisa de velhinho, de pessoa mais gordinha. E eu, no auge dos meus 19 anos e 45 quilos, recebi toda aquela informação e não consegui digerir.
Foi aí que comecei a ter uns sintomas estranhos. Não reconhecia as pessoas que me visitavam, não tinha reação de resposta, apenas reclamava que "estava enxergando dentro de um tubo" que não conseguia enxergar as laterais. Se duas pessoas ficavam na minha frente, enxergava apenas uma, ou outra dependendo de como mexia o pescoço.
Achei que aquilo era algum "efeito colateral" das injeções de insulina que me aplicavam constantemente. Tive alta e aquela nova vida em casa, me espetando e aprendendo a lidar com toda aquela rotina nova, piorava a cada dia. Precisei retornar ao hospital porque minha visão não melhorava, e a dor de cabeça era insuportável.
Foi aí que descobriram que eu tinha tido um AVC. Depois disso, entrei em "coma" e recobrei os sentidos alguns dias depois. Fiquei quase 30 dias internada, aprendendo a conviver com a falta de visão, reaprendendo coisas simples, como escovar os dentes, tomar banho, me alimentar, pois o AVC além da minha visão, tinha afetado parte da minha coordenação motora.
No hospital, eu era a "paciente rara", a mocinha que teve AVC aos 19 anos. As equipes médicas apareciam das mais diversas especialidades para tentar entender o que tinha acontecido comigo. E pouca coisa era descoberta ou exposta para nós.
Tive alta, com uma receita de insulina e NPH nas mãos, aprendi a me auto aplicar insulina. Ganhei um caderninho com dicas de alimentos permitidos e locais de aplicação e fui me aventurar nessa vida nova. Cheia de altos e baixos (mais altos, aliás, muito altos do que baixos), minha glicemia raramente baixava de 200, até o dia que tive a primeira hipoglicemia (e, no fundo no fundo, vinha aquela esperança na minha cabeça: será que isso quer dizer que eu estou melhorando?).
Reaprendi a viver! Sim, eu digo isso com os olhos cheios de lágrimas, porque nem os médicos tinham esperanças que eu sairia daquela situação. Passei por diversos especialistas até que um dos médicos sugeriu que eu poderia estar com Leucemia. Para fechar meu diagnóstico, ele precisava do histórico familiar e que eu encontrasse a minha mãe biológica para tentar um possível transplante de medula.
Lembro quando eu e a minha mãe saindo do consultório, caladas no elevador, chegar no carro, respirar fundo e perguntar ao mesmo tempo: e agora? Mas eu acredito num Deus que sabe de todas as coisas e que nos conhece no nosso íntimo, e que NADA nessa vida acontece por acaso!

E fomos nos aventurar em mais um capítulo dessa história louca chamada vida! Para resumir a história, encontramos minha mãe biológica. E pasmem: descobri que tive o AVC no dia do aniversário dela. Ela também tinha tido um AVC e estava muito debilitada principalmente a fala e a memória. No fundo, existia alguma coisa que não estava resolvida dentro de nós.
Nos perdoamos e começamos ali um novo capítulo da história. Alguns meses após encontrar minha mãe biológica, o médico refez meus exames e, para nossa surpresa, todas as evidencias de que eu poderia ter leucemia, sumiram! Sim! Acredito que Deus permitiu que tudo isso tivesse acontecido, para que houvesse o perdão entre nós!
Passei por muitos altos e baixos, foi difícil de aceitar que teria que usar insulina para o resto da minha vida, até que um dia minha médica foi bem franca comigo: ela olhou bem séria para mim e falou: "Kettlin, ou você aceita e cuida da sua saúde ou dentro de pouco tempo você terá muitas complicações e vai morrer!"
Pode parecer grosseiro ouvir isso de um profissional, mais foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Dali em diante, tudo mudou. Muitas pessoas se espantam quando eu digo que sou diabética, me olham e dizem: "Nossa, magrinha desse jeito?" E é engraçado, pois lembro que tinha a mesma ideia sobre a doença e hoje convivo com ela como se fosse algo tão normal e tranquilo!

Em 2017, me casei, estava morrendo de medo de ter uma "hipo" na hora do SIM, mais graças a Deus tive um casamento de princesa, levei glicosimetro, fitas, agulha, insulinas à tira colo para a festa, corrigi algumas vezes a glicemia durante a festa e foi tudo melhor que eu esperava!
Hoje, vivo feliz, cuidando da DM e com a última glicada em 6,3. Tenho a esperança de que um dia descubram a cura para essa doença e, sempre buscando enxergar o lado bom de tudo, pois foi através da DM que conheci, incentivei, inspirei, apoiei e ajudei muitas pessoas. E, da mesma forma, também fui muito ajudada!
Principalmente com o grupo da ADIJO. Por meio dele, eu aprendo constantemente com a experiência de outros diabéticos, trocamos ideias, brigamos para termos nossos direitos garantidos e assim a vida vai seguindo, um dia de cada vez, e com Deus à frente em todos eles!